Pórtico de Arroio do Sal

Imagem do pórtico de Arroio do Sal
"Faz qualquer coisa, mas não me perde esse recurso!", foi a ordem dada naquela manhã pela secretária. Nossa equipe estava trabalhando há semanas, tentando resolver uma exigência aparentemente simples e obvia, dada pelo gestor do recurso para que pudesse aprovar nosso projeto, "como será o processo de execução".
Tínhamos ganho o projeto do pórtico de um profissional que já não mais fazia parte da equipe, na verdade entrei pouco tempo depois de ele ter saído. Minha tarefa era desenvolver o projeto dele para ser aprovado pelo gestor e ser feita a licitação para execução da obra, entretanto estávamos andando em círculos sem conseguir definir o processo construtivo da estrutura, metade da documentação apontava que seria uma estrutura de concreto armado moldado no local, enquanto nos parecia mais coerente adotar uma estrutura pré-fabricada. O impasse foi se arrastando no tempo, agravando minha angústia de ter de desenvolver um projeto que, pessoalmente, não me agradava.
Aquela ordem era o que eu precisava, uma espécie de carta branca, para começar um projeto totalmente novo. Tínhamos uma semana para entregar o novo projeto, resolvendo toda a questão de processo construtivo, interdição do acesso da cidade, com um orçamento máximo de duzentos e cinquenta mil reais. Iniciamos o processo criativo depois de descartarmos a possibilidade de ser feito um concurso público, devido ao prazo para conclusão do projeto e a impossibilidade financeira de premiar o vencedor. Cogitou-se como prêmio, a "honra" de ter um projeto exposto na entrada da cidade.
No primeiro dia desenvolvemos diversas ideias conceituais, em torno do pescador símbolo da cidade, abandonando definitivamente o conceito de canoas do projeto herdado. Todas as ideias pareciam impossíveis de serem executadas com algum método tradicional, no nosso coração estava a vontade de usar concreto, nos nossos esboços a necessidade de usar aço.
Em algum momento daquela tarde alguém comentou ironicamente, que todas as casas de Arroio do Sal tinham um pergolado, então por que não fazíamos um símbolo máximo da cidade. Como um sopro quentinho no coração, aquilo me fez todo o sentido e decidi que iríamos trabalhar essa ideia.
O projeto seria desenvolvido em concreto armado, sete arcos retos seguidos, causando a sensação de passar por baixo de uma pérgola. Apoiados por um dos lados em apenas três pilares que deveriam se destacar da estrutura, proporcionando um impacto visual pela ausência de sustentação para metade da estrutura.
Levantou-se o questionamento do significado daquela estrutura. Uma das teorias versa que representa o colonizador daquela região, os italianos da região de Caxias do Sul, produtores de vinho que tinham os parreirais como geradores de riqueza, os quais permitiriam que construíssem suas casas de veraneio no litoral norte. Outra versão diz que foram sete as famílias que fundaram Arroio do Sal, representadas nos sete pilares ao norte, mas apenas três são os que mandam na cidade, representados nos três pilares ao sul. Para este arquiteto, é nada mais que uma pérgola, símbolo da arquitetura contemporânea da cidade.
Contou com a participação de Steeven Ávila como arquiteto autor do projeto, Evandro Piccolo como consultor do projeto estrutural, Cristiano Flores e Ranieri Pereira como desenhistas técnicos e Rita Basei como gerente de projeto.

Um comentário:

  1. Me sinto honrado de ter participado dessa equipe, e o interessante támbem foi colocar os jogos de luzes para dar vida a obra de arte, podendo transformar um objeto branco em diversas cores..

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